A expressão "concordo em gênero, número e grau".
Por Claudio Moreno (professor)
A expressão, que pretende ser uma forma enfática de manifestar nossa
concordância para com alguma coisa, falha por se basear numa concepção
gramatical errônea. Explico: a concordância é um mecanismo muito
presente no Português (e quase ausente no Inglês): a flexão dos
vocábulos subordinados repete os traços de flexão do vocábulo dominante.
Dessa forma, a flexão dos adjetivos, dos artigos, dos pronomes
possessivos, etc., repete os traços de gênero e número do substantivo
que acompanham. Em "a minha nova JAQUETA amarela", todos os vocábulos
estão refletindo os traços de jaqueta, o núcleo do sintagma; em outras
palavras, eles "concordam" em gênero e número com jaqueta.
Nossa gramática tradicional, contudo, escrita por autores praticamente
sem formação linguística, pensava que o grau também fosse uma forma de
flexão. Mattoso Câmara, no entanto, já na década de 60 provava que o
grau, no Português, é apenas uma forma particular de derivação,
exatamente por não estar inserido em nosso sistema de concordância
nominal, que é compulsório (se o substantivo está no masculino singular,
o adjetivo fica obrigado a fazer o mesmo). O uso do grau (aumentativo
ou diminutivo) é opcional, por parte do falante: se o substantivo está
no diminutivo, por exemplo, isso não obriga o adjetivo a fazer o mesmo
(e vice-versa: se o substantivo estiver no grau normal, nada impede que o
adjetivo venha no diminutivo): ao lado de "um livrinho fininho", posso
ter "um livrinho fino" ou "um livro fininho".
A expressão
correta, na verdade, é "concordo em gênero, número e caso" — e quem a
usa assim demonstra uma cultura bem acima do comum, pois se refere ao
Grego ou ao Latim, em que o caso (nominativo, acusativo, genitivo, etc.)
também fazia parte do sistema de concordância. Mesmo se não tiveste,
Robson, a sorte de estudar um desses idiomas clássicos (o Brasil, numa
atitude suicida, eliminou-os de seu sistema educacional, ao contrário de
países mais "atrasados", como a Alemanha, a França, a Itália, os
próprios Estados Unidos...), mesmo assim, repito, deves usar a expressão
na sua forma adequada, pois na linguagem também se fazem notar aqueles
pequenos sinais de nosso capricho pessoal — ou de nosso desleixo.
A expressão "concordo em gênero, número e grau".
Por Claudio Moreno (professor)
A expressão, que pretende ser uma forma enfática de manifestar nossa concordância para com alguma coisa, falha por se basear numa concepção gramatical errônea. Explico: a concordância é um mecanismo muito presente no Português (e quase ausente no Inglês): a flexão dos vocábulos subordinados repete os traços de flexão do vocábulo dominante. Dessa forma, a flexão dos adjetivos, dos artigos, dos pronomes possessivos, etc., repete os traços de gênero e número do substantivo que acompanham. Em "a minha nova JAQUETA amarela", todos os vocábulos estão refletindo os traços de jaqueta, o núcleo do sintagma; em outras palavras, eles "concordam" em gênero e número com jaqueta.
Nossa gramática tradicional, contudo, escrita por autores praticamente sem formação linguística, pensava que o grau também fosse uma forma de flexão. Mattoso Câmara, no entanto, já na década de 60 provava que o grau, no Português, é apenas uma forma particular de derivação, exatamente por não estar inserido em nosso sistema de concordância nominal, que é compulsório (se o substantivo está no masculino singular, o adjetivo fica obrigado a fazer o mesmo). O uso do grau (aumentativo ou diminutivo) é opcional, por parte do falante: se o substantivo está no diminutivo, por exemplo, isso não obriga o adjetivo a fazer o mesmo (e vice-versa: se o substantivo estiver no grau normal, nada impede que o adjetivo venha no diminutivo): ao lado de "um livrinho fininho", posso ter "um livrinho fino" ou "um livro fininho".
A expressão correta, na verdade, é "concordo em gênero, número e caso" — e quem a usa assim demonstra uma cultura bem acima do comum, pois se refere ao Grego ou ao Latim, em que o caso (nominativo, acusativo, genitivo, etc.) também fazia parte do sistema de concordância. Mesmo se não tiveste, Robson, a sorte de estudar um desses idiomas clássicos (o Brasil, numa atitude suicida, eliminou-os de seu sistema educacional, ao contrário de países mais "atrasados", como a Alemanha, a França, a Itália, os próprios Estados Unidos...), mesmo assim, repito, deves usar a expressão na sua forma adequada, pois na linguagem também se fazem notar aqueles pequenos sinais de nosso capricho pessoal — ou de nosso desleixo.
Por Claudio Moreno (professor)
A expressão, que pretende ser uma forma enfática de manifestar nossa concordância para com alguma coisa, falha por se basear numa concepção gramatical errônea. Explico: a concordância é um mecanismo muito presente no Português (e quase ausente no Inglês): a flexão dos vocábulos subordinados repete os traços de flexão do vocábulo dominante. Dessa forma, a flexão dos adjetivos, dos artigos, dos pronomes possessivos, etc., repete os traços de gênero e número do substantivo que acompanham. Em "a minha nova JAQUETA amarela", todos os vocábulos estão refletindo os traços de jaqueta, o núcleo do sintagma; em outras palavras, eles "concordam" em gênero e número com jaqueta.
Nossa gramática tradicional, contudo, escrita por autores praticamente sem formação linguística, pensava que o grau também fosse uma forma de flexão. Mattoso Câmara, no entanto, já na década de 60 provava que o grau, no Português, é apenas uma forma particular de derivação, exatamente por não estar inserido em nosso sistema de concordância nominal, que é compulsório (se o substantivo está no masculino singular, o adjetivo fica obrigado a fazer o mesmo). O uso do grau (aumentativo ou diminutivo) é opcional, por parte do falante: se o substantivo está no diminutivo, por exemplo, isso não obriga o adjetivo a fazer o mesmo (e vice-versa: se o substantivo estiver no grau normal, nada impede que o adjetivo venha no diminutivo): ao lado de "um livrinho fininho", posso ter "um livrinho fino" ou "um livro fininho".
A expressão correta, na verdade, é "concordo em gênero, número e caso" — e quem a usa assim demonstra uma cultura bem acima do comum, pois se refere ao Grego ou ao Latim, em que o caso (nominativo, acusativo, genitivo, etc.) também fazia parte do sistema de concordância. Mesmo se não tiveste, Robson, a sorte de estudar um desses idiomas clássicos (o Brasil, numa atitude suicida, eliminou-os de seu sistema educacional, ao contrário de países mais "atrasados", como a Alemanha, a França, a Itália, os próprios Estados Unidos...), mesmo assim, repito, deves usar a expressão na sua forma adequada, pois na linguagem também se fazem notar aqueles pequenos sinais de nosso capricho pessoal — ou de nosso desleixo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário