quarta-feira, 1 de maio de 2013

Reconhecer a cidade a pé para reencontrar o cidadão

ARTIGO Notícia da edição impressa de 29/04/2013 do Jornal do Comércio
Reconhecer a cidade a pé para reencontrar o cidadão
Gonzalo Durán
A cidade mudou quando o veículo a motor entrou em nossas vidas. A amabilidade sumiu dentro do carro, convertido numa armadura motorizada, um lar com rodas, um reino a gasolina ou diesel. Pedestres viram guerreiros no volante, e as multidões suspiram por ingressar nos engarrafamentos mais seletos. Em Porto Alegre, as calçadas são testemunhas do descaso proverbial. Como a fiscalização é quase nula, vemos pedaços de calçada fabulosos ao lado de lajes quebradas que disputam espaço com moitas cheias de sujeira e com buracos à espreita de tornozelos incautos. Além de cuidar para não tropeçar ou para não ferir os olhos num galho baixo demais, temos que ter cuidado com postes enferrujados ou orelhões cheios de poeira. Não conheço ninguém que tenha visto o DMLU limpar as lixeiras por fora ou desinfetar os pontos de ônibus, serviço que deveria ser providenciado com frequência.

Esta conduta relapsa constitui uma autêntica depredação passiva por parte do Poder Público, o que só serve para que vizinhos desleixados argumentem que, se a prefeitura não faz, eles também não. Eis uma linguagem dupla e hipócrita resumida no velho ditado: “Faça o que eu digo e não faça o que eu faço”, e que aqui foi turbinado como “Eu curto, eu cuido”.

Porto Alegre é uma cidade emergente, tem uma inquestionável vocação internacional, porém as equipes de governo não sabem o que precisam os cidadãos quando descem do carro ou do transporte público e viram pedestres de novo. O morador tem o direito de se deslocar a pé com facilidade, segurança, mais limpeza e em calçadas padronizadas. Caminhar na cidade é uma necessidade para as pessoas sem carro como crianças, idosos, deficientes ou os menos favorecidos economicamente. Resgatemos os pedestres de seus guetos inconexos e ofereçamos passeios maiores e melhores. Um pedestre alegre, em um porto como o nosso, é um cidadão sempre disposto a participar do aprimoramento do que conseguiu conhecer prazerosamente a pé.

Ator e pedestre
COMENTÁRIOS
Antonio Cattani - 29/04/2013 - 10h45
Gonzalo Parabéns pela clara análise do círculo vicioso que está destruindo a qualidade de vida nas grandes cidades. A cada ano, milhares de novos carros entram em circulação agravando o caos urbano. A alternativa pedestre, mais saudável e infinitamente menos poluente, é dificultada pelo estado de conservação das calçadas, pelo ruído e pela violência dos motoristas e motociclistas. A atual administração está mais preocupada em cortar árvores para ampliar a circulação do que embelezar os passeios públicos.

Elson -
29/04/2013 - 19h16
Caminhar por Porto Alegre é mágico. Não existe como explicar às pessoas o fascínio desta cidade, mas é fato que quem a conhece, encanta-se de sobremaneira. Mas infelizmente a atual gestão municipal está dando valor a coisas que não se enquadram à alma e ao espírito desta cidade. Quando Porto Alegre, por atitudes erradas como as que estamos vendo, deixar de transpirar esta alma de natureza altiva que lhe é característica, não sobrará nada que já não se tenha aos montes pelo Brasil afora.
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